A Visão Sistêmica
“Não sois máquina! Homens é que sois”
Charles Chaplin em "O Grande Ditador", de 1940
Há tempos a humanidade vem seguindo um modelo de conhecimento
baseado na divisão da realidade em subsistemas, estudados separadamente e
classificados pelas ciências como partes isoladas.
Até a criação do método científico, por René Descartes em
1637, a produção do conhecimento nascia da visão totalizante dos filósofos,
verdadeiros sábios, conhecedores de assuntos plurais, curiosos e interessados
em explicar e relacionar os fatos para chegar à verdade.
Após a Revolução Científica, todo o conhecimento já produzido
pela humanidade passou a ser questionado e considerado verdadeiro apenas após
sua submissão aos procedimentos sistemáticos do método cartesiano, que produz
uma resposta neutra e objetiva acerca dos fatos.
A evolução tecnológica da ciência ganhou expressividade,
associada à transição do modelo econômico mercantilista para o capitalista.
No Mercantilismo (Idade Moderna, entre os séculos XV e XVIII),
muitos ainda permaneciam nos decadentes feudos, nas zonas rurais, e a economia
baseava-se na produção artesanal. As demandas permaneciam estáveis, e o
trabalho assalariado nascia timidamente. Com a ascensão do Capitalismo (Idade
Contemporânea, do final do século XVIII até a atualidade), as ideias liberais
no campo político e econômico embasaram a necessidade da assertividade no
momento das decisões mais relevantes. Apareceu a liberdade para escolher a
religião, a profissão, o mercado a atuar, enfim, o estilo de vida passou a ser
definido por cada indivíduo. A credibilidade da ciência embasou esse momento
peculiar, onde ideias filosóficas foram substituídas pela pontualidade do
método. Muito se atribui em termos de desenvolvimento a esse modelo desde
então.
Basta uma despretensiosa pesquisa na internet (um dos frutos
da tecnologia científica), para serem encontradas criações cuja falta seria
inimaginável nos dias de hoje. A cura de doenças, os avanços nos sistemas de
comunicação, nos meios de ir e vir, as invenções que facilitam os serviços
domésticos, a construção civil, essa lista é interminável. Deve-se tudo isso ao
progresso das ciências.
A principal questão é que os cientistas mergulharam cada vez
mais em suas especificidades indiscutivelmente importantes, deixando para trás
a capacidade de promover uma visão totalizante e inter-relacional, característica
facilmente encontrada na obra dos antigos filósofos.
A visão sistêmica que consiste em
perceber as relações entre o todo e as partes, ou o movimento integrado entre o
ambiente, nossas decisões e o futuro, é um exercício de percepção.
Como todo exercício, exige prática perseverante e
consistente.
A ciência aponta as verdades, e a visão sistêmica
norteia a melhor maneira de aplicá-las.
Através do uso concomitante da intuição, da sensibilidade,
da emoção e do conhecimento técnico-científico, é possível tomar decisões com consciência
das consequências potenciais.
Hoje se sabe que o melhor resultado advém do
equilíbrio. Desrobotizar, analisar, relacionar, considerar todas as possibilidades.
Avaliar as situações entendendo que as
ações individuais promovem frutos coletivos, todas as ações coletivas promovem legado
universal. E os sistemas maiores – sociedade, universo – afetam diretamente o
curso de cada pessoa.
O uso que se dá ao conhecimento, a respeitosa
convivência entre indivíduos e povos e a manutenção das condições para a vida
no planeta demandam uma visão de pertença, possibilitada pela interpretação
sistêmica.
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