quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Semanário nº1



A Visão Sistêmica

 

“Não sois máquina! Homens é que sois”  

  Charles Chaplin em "O Grande Ditador", de 1940


Há tempos a humanidade vem seguindo um modelo de conhecimento baseado na divisão da realidade em subsistemas, estudados separadamente e classificados pelas ciências como partes isoladas.
Até a criação do método científico, por René Descartes em 1637, a produção do conhecimento nascia da visão totalizante dos filósofos, verdadeiros sábios, conhecedores de assuntos plurais, curiosos e interessados em explicar e relacionar os fatos para chegar à verdade.
Após a Revolução Científica, todo o conhecimento já produzido pela humanidade passou a ser questionado e considerado verdadeiro apenas após sua submissão aos procedimentos sistemáticos do método cartesiano, que produz uma resposta neutra e objetiva acerca dos fatos.
A evolução tecnológica da ciência ganhou expressividade, associada à transição do modelo econômico mercantilista para o capitalista.
No Mercantilismo (Idade Moderna, entre os séculos XV e XVIII), muitos ainda permaneciam nos decadentes feudos, nas zonas rurais, e a economia baseava-se na produção artesanal. As demandas permaneciam estáveis, e o trabalho assalariado nascia timidamente. Com a ascensão do Capitalismo (Idade Contemporânea, do final do século XVIII até a atualidade), as ideias liberais no campo político e econômico embasaram a necessidade da assertividade no momento das decisões mais relevantes. Apareceu a liberdade para escolher a religião, a profissão, o mercado a atuar, enfim, o estilo de vida passou a ser definido por cada indivíduo. A credibilidade da ciência embasou esse momento peculiar, onde ideias filosóficas foram substituídas pela pontualidade do método. Muito se atribui em termos de desenvolvimento a esse modelo desde então.
Basta uma despretensiosa pesquisa na internet (um dos frutos da tecnologia científica), para serem encontradas criações cuja falta seria inimaginável nos dias de hoje. A cura de doenças, os avanços nos sistemas de comunicação, nos meios de ir e vir, as invenções que facilitam os serviços domésticos, a construção civil, essa lista é interminável. Deve-se tudo isso ao progresso das ciências.
A principal questão é que os cientistas mergulharam cada vez mais em suas especificidades indiscutivelmente importantes, deixando para trás a capacidade de promover uma visão totalizante e inter-relacional, característica facilmente encontrada na obra dos antigos filósofos.
A visão sistêmica que consiste em perceber as relações entre o todo e as partes, ou o movimento integrado entre o ambiente, nossas decisões e o futuro, é um exercício de percepção.
Como todo exercício, exige prática perseverante e consistente.
A ciência aponta as verdades, e a visão sistêmica norteia a melhor maneira de aplicá-las.
Através do uso concomitante da intuição, da sensibilidade, da emoção e do conhecimento técnico-científico, é possível tomar decisões com consciência das consequências potenciais.
Hoje se sabe que o melhor resultado advém do equilíbrio. Desrobotizar, analisar, relacionar, considerar todas as possibilidades. Avaliar as situações entendendo que  as ações individuais promovem frutos coletivos, todas as ações coletivas promovem legado universal. E os sistemas maiores – sociedade, universo – afetam diretamente o curso de cada pessoa.
O uso que se dá ao conhecimento, a respeitosa convivência entre indivíduos e povos e a manutenção das condições para a vida no planeta demandam uma visão de pertença, possibilitada pela interpretação sistêmica.

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